Opinião

Maquiavel: atualíssimo!

Na coluna [magis+] dessa segunda-feira o jornalista Pablo Rodrigues analisa a política nacional a partir da obra O Príncipe, do filósofo italiano

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Em 1513, o florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527), desejoso de ver a Itália unificada, escreve O Príncipe. Na obra, o filósofo e político procura inverter a lógica e deixa de pensar a política em termos ideais (carregada dos valores cristãos) e passa a considerá-la a partir da própria realidade, repleta de pequenas e grandes maldades. Maquiavel representa, de certa maneira, o ideal renascentista: o homem recolocado no centro de tudo (antropocentrismo) em substituição à noção de Deus como o centro de tudo (teocentrismo). Em O Príncipe, procura aconselhar o governante sobre como governar e manter-se no poder. Ironicamente, Maquiavel se tornará célebre por uma frase que não escreveu, mas fica implícita no livro: “Os fins justificam os meios”. Frase, aliás, que parece ter sido seguida à risca nos últimos 503 anos. Frase, ainda, bastante atual em 2016.

O caso dos governos do PT na Presidência e da ascensão do peemedebista Michel Temer resulta exemplar, maquiavelicamente falando. De um lado, os petistas - em uma enorme coalizão formada em nome da “governabilidade” - lotearam ministérios e distribuíram cargos a partidos com os quais não possuíam (e seguem não possuindo) quaisquer afinidades ideológicas, como o Partido Progressista (PP). Para manter-se no poder, o PT optou por esquecer-se das bases que o constituíram historicamente, como os movimentos sociais, e ofereceu abrigo à “serpente” do fisiologismo. Deu certo por pouco mais de 13 anos. Até o ovo eclodir. Se Dilma fez de tudo para manter-se no poder, a oposição a ela - com o protagonismo oportunista do PMDB - não mediu esforços para tomá-lo. E conseguiu. Como tudo parece resumir-se a chegar ao poder e mantê-lo, não importam os meios, fica difícil dizer quem foi mais vil. Sim, sei, o leitor mais atento dirá, e concordaremos: “Um foi eleito pelo voto popular e direto; o outro, não”. No entanto, nessa história toda, o voto, infelizmente, não passa de mero acessório, com muito pouco ou quase nenhum valor.

Dilma não caiu pelas chamadas “pedaladas fiscais”. Está claríssimo: dois dias após o afastamento definitivo da petista, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), no exercício do cargo de presidente da República, sancionou lei que autoriza tais “pedaladas”. A cada gesto, Temer e seus apoiadores de primeira hora diminuem-se. E, estranhamente, como se houvesse algo fora de lugar, resta para muitos a sensação de que Dilma sai do processo de impeachment maior do que entrou.

Para melhor compreender Maquiavel, é necessário não perder de vista aquilo que ele considerava como o bem maior: a unificação da Itália. Havia, portanto, uma finalidade, uma noção de bem comum, no fazer político proposto pelo florentino, diferentemente do que se vislumbra hoje na política brasileira, impregnada do mais mesquinho ensimesmamento, da busca pelo enriquecimento ilícito e do poder sem a dimensão do serviço.

O livro O Príncipe pode ser encontrado nas livrarias em edições de bolso por menos de R$ 15,00. Vale a leitura. Para governantes, com certeza. Mas, sobretudo, para nós, os “governados”. Porque, ao mesmo tempo em que dá conselhos a quem governa, Maquiavel desnuda o modo como, na prática, a maior parte dos governos se move, gostemos ou não.

Em tempos de eleições municipais e propagandas eleitorais (todas exageradas, para um lado ou para o outro), O Príncipe é bibliografia básica. É início de conversa. Andiamo avanti!

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